Possibilidade de se recuperar de procedimento durante isolamento social tem motivado pessoas a realizar procedimentos estéticos
Carolina Monteiro Nunes
Fonte: revistaferidas.com.br
Em 5.11.20
Apesar de o vírus fechar negócios em todo o mundo,
muitas clínicas de cirurgia plástica permaneceram abertas devido ao aumento do
número de pacientes durante a quarentena. Para evitar a proliferação da doença,
os estabelecimentos adotaram normas mais rígidas de segurança como medição de
temperatura, testes de Covid-19 e limpezas mais frequentes.
Desde adolescente, a jornalista S.P de 42 anos sonhava
em se livrar do culote (gordura localizada acumulada na região das coxas e
quadris) que, não importava o quanto emagrecesse, sempre permanecia em sua
silhueta. No início de março o isolamento social devido à pandemia teve início
e ela viu a oportunidade perfeita para realizar lipoaspiração no local.
“Decidi fazer os procedimentos durante a quarentena porque o processo de recuperação foi muito mais tranquilo do que seria se eu tivesse que me deslocar para o trabalho e reuniões diariamente. Trabalhando de casa, por exemplo, não precisei usar a cinta por baixo de roupas formais e isso facilitou bastante já que passei todo o período de recuperação usando peças confortáveis e realizando minhas tarefas sentada com o notebook no sofá da minha sala”, contou.
Assim como ela, muitas outras pessoas também
aproveitaram o momento para realizar cirurgias estéticas durante a pandemia
justamente por conta da comodidade de permanecer em casa pelo período de
recuperação e continuar trabalhando normalmente, incluindo celebridades.
Kevinho, Mayra Cardi, MC Rebecca e a ex BBB20 Flayslane foram alguns dos nomes
que realizaram intervenções estéticas, como rinoplastia, lipoaspiração e
preenchimento labial já que suas atividades artísticas foram totalmente
interrompidas pela pandemia.
Esta tendência vem acontecendo mundo afora. De acordo
com a Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos (American Society of Plastic
Surgeons), 55% dos cirurgiões plásticos em todo o país relataram que as
injeções de Botox foram o tratamento mais procurado durante a permanência em
casa, seguido por 40% que relataram que o aumento dos seios foi a solicitação
mais frequente.
De acordo com o Google Brasil, o termo “rinoplastia” –
plástica realizada no nariz -, por exemplo, apresentou um crescimento de mais
de 4.800% nas ferramentas de busca do Google entre os meses de março e junho.
Victor Cutait, cirurgião plástico há mais de 20 anos,
membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e professor da
Universidade Nove de Julho (UniNove), viu a movimentação de sua clínica
estética em São Paulo aumentar vertiginosamente durante os meses de isolamento
com 60% mais pacientes entre os meses de março e agosto, especialmente de
procedimentos para melhorar a aparência do rosto e sinais de envelhecimento,
tais como preenchimento e botox, rinoplastia e levantamento de pálpebras,
colocação de próteses de silicone nos seios e lipoaspiração.
“Tenho sido muito procurado por pessoas que sempre tiveram o sonho de fazer algum procedimento estético e que nunca levaram isso adiante. Agora, o isolamento nos possibilitou muitas reflexões e trouxe à tona os desejos há muito deixados de lado já que existe a sensação de que a vida passa rápido demais para que não façamos o que temos vontade. Para muitos, a cirurgia plástica consta nesta lista”, explica o especialista que é membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e professor de Cirurgia Plástica na Universidade Nove de Julho.
Estes números não apenas indicam uma tendência de
comportamento, como também abrem espaço para uma discussão sobre autoimagem. “É
notável o aumento de pessoas que vêm me procurando neste momento para realizar
um sonho antigo e solucionar uma questão de autoestima que ficou ainda mais
evidente durante o isolamento. Quando se sentem mais bonitas, as pessoas ficam
mais motivadas a cuidar de si e têm menor chance de sofrer de depressão”, conta
o médico.
Além disso, a possibilidade de atendimento à distância
para uma primeira conversa também tem sido grande facilitador para que pessoas
interessadas possam conversar com especialistas.
As redes sociais influenciam a autoestima
O cirurgião também vê outra tendência entre muitos que chegam a seu consultório: a influência das redes sociais que, durante a quarentena, se tornou um meio simples de entretenimento. “O Instagram sempre foi utilizado como ferramenta para ostentar uma vida de faz de conta e, além de fotos de comidas deliciosas, viagens inesquecíveis, também são publicadas imagens de corpos exuberantes, mas com ajuda de filtros que mostram uma falsa perfeição. Estas ferramentas estão distorcendo a maneira como as pessoas veem seus corpos e rostos e acentuando problemas de auto-estima”.
A percepção do especialista é corroborada por um
estudo de 2019 da Royal Society for Public Halth, do Reino Unido que constatou
que o Instagram é a rede social mais prejudicial à saúde mental dos usuários.
De acordo com Victor Cutait, por conta das redes
sociais, muitas pessoas acabam se sentindo inferiores e não é raro um paciente
chegar a seu consultório pedindo para ter nariz ou seios parecidos aos de
alguém que segue.
“Neste mar de imagens retocadas que mostra o dia a dia de pessoas aparentemente tão felizes, usuários comuns comparam suas vidas normais a situações inalcançáveis, incluindo corpos digitalmente modificados em perfis de atrizes, modelos, musas fitness e blogueiras. Antes de buscar um profissional para fazer um procedimento estético primeiro é preciso entender que existe uma limitação em relação à perfeição e que dificilmente será possível ser tão preciso quanto um filtro de uma rede social”, afirma o cirurgião plástico."
Portanto, o profissional recomenda: antes de se
submeter a uma cirurgia estética, é preciso ponderar sobre as razões de buscar
determinado procedimento para ter certeza de que não tem a expectativa de uma
versão idealizada de beleza.
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